
A violência contra as mulheres é uma constante no mundo contemporâneo, retratada pelo compositor Eli-Eri Moura em obra que será apresentada pela pianista Erika Ribeiro e a soprano Débora Faustino, que também celebram criação feminina como forma de resistência perante a barbárie e contra o silenciamento da mulher compositora.
Prelúdio nº 3 – Lento e sombrio; agitato
Berta Alves de Sousa [3’]
Piano solo
Há no meu peito uma porta
Berta Alves de Sousa [3’]
Poema de José Abreu Albano
Canto e piano
De amor escrevo
Berta Alves de Sousa [3’]
Poema de Luís de Camões
Canto e piano
Femmes de Légende
Mel Bonis [24’]
Piano solo
Passionis de Flamma
Eli-Eri Moura [31’]
Canto e piano


Soprano e piano
Sonho de existir, ilusão de amar
Sábado, 18 de novembro, às 20h
Casa de Música Sônia Cabral
R. São Gonçalo - Centro, Vitória - ES, Brasil


Ficha Técnica
A violência é uma forma constante de silenciamento. E três histórias reais foram o ponto de partida para o compositor Eli-Eri Moura (1963-) ao escrever o ciclo de canções Passionis de Flamma. A obra está dividida em três partes, cada uma dedicada a uma mulher vítima da intolerância, do machismo e do abuso ainda tão presentes em nossa sociedade.
A primeira parte relembra Isabela Pajuçara, estuprada e assassinada após uma festa em Queimadas, na Paraíba, em 2012. A segunda trata da história de Mayara Amaral, violonista de 27 anos que, em 2017, foi assassinada a marteladas pelo namorado. E a terceira evoca um episódio ocorrido no mesmo ano na Nicarágua, onde Vilma Trujillo, de 25 anos, foi amarrada em uma árvore e queimada viva por evangélicos fundamentalistas que queriam “expulsar o demônio” de seu corpo.
Eli-Eri Moura explica que cada parte da obra é formada por quatro canções: a primeira exalta as virtudes da mulher; a segunda relembra julgamentos segundo óticas machistas; a terceira evoca os casos que inspiraram a composição; e a quarta propõe o que o compositor define como “redenção simbólica” da mulher assassinada.
A dureza da composição é um lembrete necessário sobre a questão do feminicídio e o poder da arte de refletir sobre o nosso tempo. Da mesma forma, as outras peças presentes no recital celebram a criação feminina como forma de resistência perante a barbárie e contra o silenciamento da mulher compositora.
A portuguesa Berta Alves de Sousa (1906-1997) desenvolveu importante carreira como intérprete e compositora. Foi a primeira mulher a reger uma orquestra em Portugal e dela vamos ouvir o Prelúdio nº 3 para piano e a canção Há no meu peito uma porta.
Em seguida, o programa traz Femmes de Légende, grupo de sete peças para piano da francesa Mel Bonis (1858-1937). Suas “mulheres lendárias” são personagens femininas da literatura e mitologia, cujas histórias ela recria por meio do piano. As obras foram escritas ao longo das duas primeiras décadas do século XX e são testemunho do vigor criativo de uma autora cuja obra apenas recentemente tem sido resgatada.
Mélisande é inspirada na jovem personagem do poeta Maurice Maeterlinck. Desdêmona é a mulher vítima do ciúme e da violência de Otelo na peça de William Shakespeare, autor também de Hamlet, na qual Ofélia é retratada em toda a sua melancolia. Viviane, a fada do lago, era filha de Diana, deusa dos bosques, responsável por proteger e entregar ao Rei Arthur a espada Excalibur. Phoebé, é a deusa da lua na mitologia grega. Salomé, a personagem bíblica que mexeria com a imaginação de diversos artistas ao longo dos séculos, e Ônfale, a rainha da Lídia, terra do Oriente, e esposa de Hércules.
João Luiz Sampaio, curador da edição 2023
Sobre o espetáculo
