
Em nova participação na programação do Festival, a Orquestra Jovem Vale Música apresenta um programa dedicado aos pequenos “outros”, as crianças. O grupo vai interpretar um repertório formado por obras que evocam a infância e o diálogo entre a música clássica e as manifestações regionais.
Orquestra Jovem Vale Música
Simple symphony op. 4
Benjamin Britten [20’]
Invenções Brasileiras nº 2
Juliana Ripke [3’]
Suíte Infância Brasileira
Elodie Bouny [8’]
Esboços – Cenas Pitorescas op.38
Leopoldo Miguez [17’]


Concerto
Orquestra Jovem Vale Música
Sexta-feira, 10 de novembro, às 20h
Casa de Música Sônia Cabral
R. São Gonçalo - Centro, Vitória - ES, Brasil


Ficha Técnica
Compositores de diferentes épocas, estilos e nacionalidades voltaram-se ao folclore e às manifestações regionais como fonte de inspiração. E, nesse processo, temas ligados à infância estiveram particularmente presentes. No caso da Simple Symphony, de Benjamin Britten (1913-1976), essa relação é imediata: a peça, escrita em 1934, é baseada em melodias e ideias musicais de obras compostas por ele quando tinha apenas 9 anos de idade, por sua vez inspiradas em histórias infanto-juvenis, como a de Robin Hood, o herói da literatura inglesa que roubava dos ricos para dar aos pobres.
No Brasil, o olhar para a cultura regional, a partir do início do século XX, se propunha a imaginar uma música clássica que, herdada da Europa, assumisse um caráter nacional, com o diálogo entre culturas servindo de base para uma identidade musical e cultural.
É desse universo que fala Juliana Ripke (1988-) em Invenções Brasileiras nº 2, escrita sob encomenda desta edição do festival para o concerto da Orquestra Jovem Vale Música. O nome da obra refere-se ao que ela define como a invenção de tradições na cultura brasileira. “E como o tema do Festival está ligado à relação com o outro, busquei recriar na música diálogos entre melodias e entre os instrumentos, assim como entre ritmos brasileiros, como o baião, o maracatu ou o choro”, ela explica.
A infância e o folclore são presenças marcantes na Suíte Infância Brasileira, da compositora franco-venezuelana Elodie Bouny (1982-), criada para o Projeto Sinos, iniciativa de formação musical desenvolvida pela Funarte e a Universidade Federal do Rio de Janeiro. Os quatro movimentos da obra evocam personagens célebres do imaginário infantil: Boitatá, Cuca, Iara e Lobisomem.
Para cada um deles, Elodie cria um universo musical diferente. Boitatá tem, em suas palavras, um caráter “lento e ameaçador”, como a grande serpente protetora das florestas brasileiras. Cuca alterna uma música que representa brincadeiras infantis com a presença, sugerida pelos contrabaixos, da jacaré velha e monstruosa que rouba crianças desobedientes e rebeldes. A sereia Iara, tema do terceiro movimento, surge a partir de um tema repleto de lirismo. E Lobisomem apresenta dois temas – um associado ao homem e outro, ao lobo –, que vão se misturando gradualmente, formando uma representação musical da criatura que surge nas noites de lua cheia.
O concerto se encerra com Esboços – Cenas Pitorescas, do brasileiro Leopoldo Miguez (1850-1902). As peças que compõem a obra foram escritas originalmente para piano solo, mas o compositor fez em seguida a versão orquestral que vamos ouvir, uma de suas últimas criações. Miguez trata cada movimento – Polônia, A Tardinha, Devaneio, Teteia, Pesar e Folguedo – como uma miniatura, descrevendo situações e personagens em uma linguagem envolvente.
João Luiz Sampaio, curador da edição 2023
Sobre o espetáculo
