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Percussão e violoncelo

Olhe para mim, me escute

Sexta-feira, 22 de novembro, às 20h
Casa da Música Sônia Cabral

R. São Gonçalo - Centro, Vitória - ES, Brasil

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Sobre o espetáculo

A tecnologia está no centro das transformações pelas quais a sociedade contemporânea tem passado, em especial ao longo do último século. Ela torna a vida mais fácil, traz avanços em diversos campos e aproxima as pessoas. Mas, ao mesmo tempo em que está a nosso serviço, começamos, com o tempo, a viver em função dela. E as mudanças que ela traz influenciam o modo de nos comunicarmos, nossas relações com os outros, a forma como se configura o espaço de convivência coletiva – e até mesmo o que significa ser humano.


Em Clapping Music, que abre o programa do recital, o compositor Steve Reich se propôs a criar uma música que não necessitasse de nenhuma mediação, nenhum instrumento, apenas o corpo humano. Escrita no final dos anos 1980, ela segue atual ao nos lembrar como a expressão humana está, antes de tudo, no corpo, nos sentidos, no olhar, na capacidade de ouvir.


A obra de Reich aborda uma interação íntima entre as pessoas. É disso que falam também as Duas Peças de Ney Rosauro. Elas foram criadas a partir de uma carta a um amigo que o compositor perdeu e é, assim, uma música feita de afeto, de lembranças e, portanto, de outro tipo de mecanismo: o da nossa memória, que preserva e recria esses sentimentos.


Stuttered Chant, de David Lang, por sua vez, ao tentar imaginar o diálogo entre dois músicos, vai ao extremo da proximidade e os coloca tocando de fato juntos: um percussionista e uma violoncelista, cada um extraindo do violoncelo uma sonoridade própria.


No mundo contemporâneo, porém, a tecnologia é incontornável. Ela já é intrínseca à nossa vida, como lembra Sattelite, de Benjamin Holmes. O compositor tenta imaginar, em forma de música, o movimento dos satélites que estão em órbita do planeta Terra, nos acompanhando – ou seria observando? – silenciosamente, sem que possamos vê-los.


Andy Akiho traz a tecnologia de volta à terra, à vida cotidiana. Stop Speaking é uma conversa entre um percussionista e um computador, Vicky, que nos conta estar em busca de sua própria voz. Na música, porém, o compositor sugere que essa voz será sempre superficial, enquanto a do ser humano, representada pela percussão, é repleta de contrastes, nuances – e vida.


Em tempos de advento da inteligência artificial, a questão ganha significado especial. E leva a uma reflexão sobre a própria palavra: qual alcance tem a compreensão de uma máquina a respeito daquilo que diz? Afinal, para o ser humano, uma palavra não é apenas uma palavra: pode evocar memórias, sensações, e assumir significados que a extravasam.


Exemplo disso é o termo “perhaps”, “talvez” em português, que dá nome à peça de Reensa Esmail. Um pequeno punhado de letras que escondem um mundo. Isso porque, como diz a compositora, “talvez” é um termo que significa abertura: quando o usamos, é para sugerir novas e múltiplas possibilidades a respeito de um tema, de uma ideia.


Hear Me, See Me, de Niamh O’Donnel, continua a investigação sobre o impacto da tecnologia no contato entre as pessoas. A peça foi inspirada no final da pandemia do coronavírus, quando, após longo período de isolamento, pudemos, enfim, nos reencontrar pessoalmente, dando novo sentido a esses encontros após um período em que a única forma de contato era a virtual e no qual passamos, como sociedade, por uma experiência trágica e transformadora.


Em Três Andares, Denise Garcia também fala sobre convivência. A obra, ela explica, tem um caráter lúdico que nasce das “combinações inusitadas de timbres e ritmos dos instrumentos”. Ela não tenta resolver esse inusitado, ou aproximar diferentes vozes por meio da unificação do discurso, mas justamente por meio da diferença e da convivência.


O programa encerra com Time Is Money, de Kirsten Strom. A expressão “tempo é dinheiro” tornou-se símbolo da necessidade de obter resultados com rapidez e eficiência, colocando a produtividade como valor único da vida, a guiar nossas prioridades, tudo o que fazemos, com quem nos relacionamos. O aforismo surgiu no início do século XVIII. Trezentos anos depois, somos capazes de lidar de maneira diferente com a vida? E qual o papel da tecnologia nesse processo?


João Luiz Sampaio

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Olhe para mim, me escute

Assista à transmissão

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Ficha Técnica
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Steve Reich

Clapping music


Ney Rosauro

Duas peças


David Lang

Stuttered chant


Benjamin Holmes

Satellite


Andy Akiho

Stop Speaking


Reesa Esmail

Perhaps


Niamh O’Donell

Hear Me, See Me


Denise Garcia

Tríplice Andar


Kirsten Strom

Time is Money

FAÇA O DOWNLOAD DO LIBRETO
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Steve Reich

Clapping music


Ney Rosauro

Duas peças


David Lang

Stuttered chant


Benjamin Holmes

Satellite


Andy Akiho

Stop Speaking


Reesa Esmail

Perhaps


Niamh O’Donell

Hear Me, See Me


Denise Garcia

Tríplice Andar


Kirsten Strom

Time is Money

FAÇA O DOWNLOAD DO LIBRETO
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Olhe para mim, me escute
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Sobre o espetáculo

A tecnologia está no centro das transformações pelas quais a sociedade contemporânea tem passado, em especial ao longo do último século. Ela torna a vida mais fácil, traz avanços em diversos campos e aproxima as pessoas. Mas, ao mesmo tempo em que está a nosso serviço, começamos, com o tempo, a viver em função dela. E as mudanças que ela traz influenciam o modo de nos comunicarmos, nossas relações com os outros, a forma como se configura o espaço de convivência coletiva – e até mesmo o que significa ser humano.


Em Clapping Music, que abre o programa do recital, o compositor Steve Reich se propôs a criar uma música que não necessitasse de nenhuma mediação, nenhum instrumento, apenas o corpo humano. Escrita no final dos anos 1980, ela segue atual ao nos lembrar como a expressão humana está, antes de tudo, no corpo, nos sentidos, no olhar, na capacidade de ouvir.


A obra de Reich aborda uma interação íntima entre as pessoas. É disso que falam também as Duas Peças de Ney Rosauro. Elas foram criadas a partir de uma carta a um amigo que o compositor perdeu e é, assim, uma música feita de afeto, de lembranças e, portanto, de outro tipo de mecanismo: o da nossa memória, que preserva e recria esses sentimentos.


Stuttered Chant, de David Lang, por sua vez, ao tentar imaginar o diálogo entre dois músicos, vai ao extremo da proximidade e os coloca tocando de fato juntos: um percussionista e uma violoncelista, cada um extraindo do violoncelo uma sonoridade própria.


No mundo contemporâneo, porém, a tecnologia é incontornável. Ela já é intrínseca à nossa vida, como lembra Sattelite, de Benjamin Holmes. O compositor tenta imaginar, em forma de música, o movimento dos satélites que estão em órbita do planeta Terra, nos acompanhando – ou seria observando? – silenciosamente, sem que possamos vê-los.


Andy Akiho traz a tecnologia de volta à terra, à vida cotidiana. Stop Speaking é uma conversa entre um percussionista e um computador, Vicky, que nos conta estar em busca de sua própria voz. Na música, porém, o compositor sugere que essa voz será sempre superficial, enquanto a do ser humano, representada pela percussão, é repleta de contrastes, nuances – e vida.


Em tempos de advento da inteligência artificial, a questão ganha significado especial. E leva a uma reflexão sobre a própria palavra: qual alcance tem a compreensão de uma máquina a respeito daquilo que diz? Afinal, para o ser humano, uma palavra não é apenas uma palavra: pode evocar memórias, sensações, e assumir significados que a extravasam.


Exemplo disso é o termo “perhaps”, “talvez” em português, que dá nome à peça de Reensa Esmail. Um pequeno punhado de letras que escondem um mundo. Isso porque, como diz a compositora, “talvez” é um termo que significa abertura: quando o usamos, é para sugerir novas e múltiplas possibilidades a respeito de um tema, de uma ideia.


Hear Me, See Me, de Niamh O’Donnel, continua a investigação sobre o impacto da tecnologia no contato entre as pessoas. A peça foi inspirada no final da pandemia do coronavírus, quando, após longo período de isolamento, pudemos, enfim, nos reencontrar pessoalmente, dando novo sentido a esses encontros após um período em que a única forma de contato era a virtual e no qual passamos, como sociedade, por uma experiência trágica e transformadora.


Em Três Andares, Denise Garcia também fala sobre convivência. A obra, ela explica, tem um caráter lúdico que nasce das “combinações inusitadas de timbres e ritmos dos instrumentos”. Ela não tenta resolver esse inusitado, ou aproximar diferentes vozes por meio da unificação do discurso, mas justamente por meio da diferença e da convivência.


O programa encerra com Time Is Money, de Kirsten Strom. A expressão “tempo é dinheiro” tornou-se símbolo da necessidade de obter resultados com rapidez e eficiência, colocando a produtividade como valor único da vida, a guiar nossas prioridades, tudo o que fazemos, com quem nos relacionamos. O aforismo surgiu no início do século XVIII. Trezentos anos depois, somos capazes de lidar de maneira diferente com a vida? E qual o papel da tecnologia nesse processo?


João Luiz Sampaio

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