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Recital de canto e piano

Vozes interrompidas

Sábado, 23 de novembro, às 20h
Casa da Música Sônia Cabral

R. São Gonçalo - Centro, Vitória - ES, Brasil

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Sobre o espetáculo

Heróis e heroínas da literatura, da poesia, do teatro e da ópera cantam há séculos sobre a dificuldade de conciliar desejos pessoais com as exigências da sociedade. E não por acaso: a oposição entre o individual e o coletivo é uma das marcas da existência humana. Atravessando o tempo, chegam à nossa época, na qual abusos de poder, o avanço do extremismo, do ódio e da intolerância, reabrem antigas chagas e mostram que outras jamais foram de fato fechadas, colocando o indivíduo mais uma vez à mercê de um contexto de opressão.


Em Heartbraker, a compositora Missy Mazzolli cria uma partitura que faz alusão a buscas individuais ao propor ao intérprete um desafio: encontrar e dar vazão a uma voz própria em meio a uma escrita musical que coloca a ele determinações que parecem rígidas e incontornáveis.


Não é um caminho fácil. A canção de Dora Pejacevic, ao narrar a história de um órfão, nos lembra disso de forma simbólica, abordando o sentimento de estranhamento perante o mundo, a dificuldade em encontrar, à nossa volta, algo que nos ajude a entender quem somos e de onde viemos e que valorize e respeite esse caminho em toda a sua riqueza.


Em muitos momentos da história, para diferentes grupos de pessoas, isso foi uma ilusão, como nos lembra Margareth Bond em Three Dream Portraits. As canções nos falam não apenas de estranhamento, mas de não pertencimento em uma sociedade que se recusa a aceitar a diferença, neste caso ligado à origem racial, como parte central de sua constituição.


Mas, em meio a um contexto desigual e opressivo, não podemos recusar aquilo que nos torna diferentes, como sugere em suas canções o compositor Claudio Santoro, que foi alvo de perseguições políticas durante a ditadura militar no Brasil. Sua música nos fala da impossibilidade de abandonar aquilo que somos. Mesmo que isso leve à sensação de se estar à margem, com a presença constante sobre nós de uma sensação de ameaça e morte metafórica – como no epitáfio que Fernando Lopes Graça escreveu para si mesmo.


Foi algo que marcou a vida do poeta espanhol Federico García Lorca. Homossexual em um meio autoritário e preconceituoso, ele também lutou, com sua obra e atuação artística, contra o fascismo, do qual acabaria se tornando vítima. Seus textos inspiraram diferentes compositores, como Francis Poulenc e a brasileira Esther Scliar, seja pela melancolia no retrato do mundo, seja pela crença de que é possível “um cantar luminoso e repousado”.


Como no caso de Lorca, a arte segue como uma forma potente de resistência. Dmitri Shostakovich sentiu isso durante toda a sua existência, tentando fazer valer sua liberdade artística e pessoal sob o autoritarismo e a violência do regime soviético.


Seis Poemas de Marina Tsvetayeva é símbolo disso. O ciclo foi composto a partir de poemas de Tsvetayeva, que foi presa após a Revolução Russa e, décadas depois, assassinada pela polícia soviética. São textos que falam de política, de perseguição, às vezes de forma direta, às vezes de forma velada, e o último deles é dedicado à poeta Anna Akhmatova, sua grande amiga, que durante quase três décadas foi proibida de publicar sua obra. O ciclo se encerra, assim, com a voz de três artistas perseguidos, mas que nunca abandonaram a crença no valor da criação como forma de se relacionar com o mundo – e transformá-lo.


João Luiz Sampaio

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Vozes interrompidas

Assista à transmissão

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Ficha Técnica
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Missy Mazzolli

Heartbraker


Dora Pejačević

Ich bin ein waise


Margareth Bonds

Three Dream Portraits


Claudio Santoro

Canção da fuga impossível

Fragmento para um Réquiem


Esther Scliar

Novos cantares


Francis Poulenc

Trois chansons de Federico Garcia Lorca


Fernando Lopes Graça

Três Epitáfios: Ao autor


Dmitry Shostakovich

Seis Poemas de Marina Tsvetayeva

FAÇA O DOWNLOAD DO LIBRETO
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Missy Mazzolli

Heartbraker


Dora Pejačević

Ich bin ein waise


Margareth Bonds

Three Dream Portraits


Claudio Santoro

Canção da fuga impossível

Fragmento para um Réquiem


Esther Scliar

Novos cantares


Francis Poulenc

Trois chansons de Federico Garcia Lorca


Fernando Lopes Graça

Três Epitáfios: Ao autor


Dmitry Shostakovich

Seis Poemas de Marina Tsvetayeva

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Sobre o espetáculo

Heróis e heroínas da literatura, da poesia, do teatro e da ópera cantam há séculos sobre a dificuldade de conciliar desejos pessoais com as exigências da sociedade. E não por acaso: a oposição entre o individual e o coletivo é uma das marcas da existência humana. Atravessando o tempo, chegam à nossa época, na qual abusos de poder, o avanço do extremismo, do ódio e da intolerância, reabrem antigas chagas e mostram que outras jamais foram de fato fechadas, colocando o indivíduo mais uma vez à mercê de um contexto de opressão.


Em Heartbraker, a compositora Missy Mazzolli cria uma partitura que faz alusão a buscas individuais ao propor ao intérprete um desafio: encontrar e dar vazão a uma voz própria em meio a uma escrita musical que coloca a ele determinações que parecem rígidas e incontornáveis.


Não é um caminho fácil. A canção de Dora Pejacevic, ao narrar a história de um órfão, nos lembra disso de forma simbólica, abordando o sentimento de estranhamento perante o mundo, a dificuldade em encontrar, à nossa volta, algo que nos ajude a entender quem somos e de onde viemos e que valorize e respeite esse caminho em toda a sua riqueza.


Em muitos momentos da história, para diferentes grupos de pessoas, isso foi uma ilusão, como nos lembra Margareth Bond em Three Dream Portraits. As canções nos falam não apenas de estranhamento, mas de não pertencimento em uma sociedade que se recusa a aceitar a diferença, neste caso ligado à origem racial, como parte central de sua constituição.


Mas, em meio a um contexto desigual e opressivo, não podemos recusar aquilo que nos torna diferentes, como sugere em suas canções o compositor Claudio Santoro, que foi alvo de perseguições políticas durante a ditadura militar no Brasil. Sua música nos fala da impossibilidade de abandonar aquilo que somos. Mesmo que isso leve à sensação de se estar à margem, com a presença constante sobre nós de uma sensação de ameaça e morte metafórica – como no epitáfio que Fernando Lopes Graça escreveu para si mesmo.


Foi algo que marcou a vida do poeta espanhol Federico García Lorca. Homossexual em um meio autoritário e preconceituoso, ele também lutou, com sua obra e atuação artística, contra o fascismo, do qual acabaria se tornando vítima. Seus textos inspiraram diferentes compositores, como Francis Poulenc e a brasileira Esther Scliar, seja pela melancolia no retrato do mundo, seja pela crença de que é possível “um cantar luminoso e repousado”.


Como no caso de Lorca, a arte segue como uma forma potente de resistência. Dmitri Shostakovich sentiu isso durante toda a sua existência, tentando fazer valer sua liberdade artística e pessoal sob o autoritarismo e a violência do regime soviético.


Seis Poemas de Marina Tsvetayeva é símbolo disso. O ciclo foi composto a partir de poemas de Tsvetayeva, que foi presa após a Revolução Russa e, décadas depois, assassinada pela polícia soviética. São textos que falam de política, de perseguição, às vezes de forma direta, às vezes de forma velada, e o último deles é dedicado à poeta Anna Akhmatova, sua grande amiga, que durante quase três décadas foi proibida de publicar sua obra. O ciclo se encerra, assim, com a voz de três artistas perseguidos, mas que nunca abandonaram a crença no valor da criação como forma de se relacionar com o mundo – e transformá-lo.


João Luiz Sampaio

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